← Back Published on

Um guia para um espião que precisa se disfarçar como eu

A primeira coisa que é preciso saber é: eu nunca uso salto alto. Não que eu não precise, na verdade, sou tão baixinha que, a não ser que você, caro espião, seja um exemplar do anão de “Ilha da Fantasia”, provavelmente terá que serrar suas pernas para incorporar a personagem. Mas não gosto de calçar saltos porque isso vai completamente contra os meus princípios de me vestir como se o prédio estivesse pegando fogo enquanto tomo banho, resultando numa inesperada combinação de “tudo o que estava na minha frente”. Vista o que estiver na sua frente e não use saltos.

Também é importante saber que eu tenho coração peludo, como dizem por aí, ou coração gelado, como também dizem por aí, ou coração de plástico, também rumores da rua, ou que simplesmente não tenho coração e já está mais do que claro que essas são palavras da sociedade. Então, engole o choro, não se compadeça e se alguém pedir um conselho tente balançar a cabeça o máximo que puder até que a pessoa se distraia, então, a chute e saia correndo.

Outro truque muito importante é parecer que você vai explodir. Veja bem, essa é a essência do disfarce. Entenda que as pessoas vão esperar isso de você. Se você estiver caminhando, enquanto disfarçado de mim, com um de meus amigos e, suponhamos, alguém derruba um copo de Coca-Cola há uns dez metros de distância, meu amigo irá encará-lo esperando uma reação súbita, tirada engraçada, crise histérica ou explosão propriamente dita. E, amigo espião, se ele olhar pra você da maneira como descrevi, saiba que está progredindo!

Outro passo é saber incorporar o espírito da Shirley Temple: a dança está em você e você está na dança. Minha marca registrada. Em todos os momentos. To-dos.

A seguir, destaco a importância de escovar os dentes depois de cada refeição e de equilibrar sua alimentação na mesma frequência que equilibro meu sarcasmo: nunca. Ele simplesmente acontece.

Por fim, de vez em quando sente em alguma calçada, escreva alguma coisa ridícula, releia até decorar, cante músicas ruins e, quando o disfarce estiver 100% concluído, você finalmente entenderá: A vida é uma caixinha de bombons sortidos, mas enquanto você sou eu, o único bombom que encontrará é aquele de uva passa que todo mundo odeia.

Boa sorte!